OLHOS CLAROS
Diante da janela antiga, ela passava com seus olhos claros. Hoje só essa coisa difícil é que recordo: seus olhos claros. Claros como o amor da primeira mulher que amei.
Ela não foi nem a primeira nem a última: simplesmente não foi. Um dia olhei-a demoradamente, a tarde descambava mortiça e medíocre. Ela me respondeu com um olhar tão sereno, que tive ímpeto de lhe pedir perdão pelo meu. Não pedi.
As tardes, naquelas tardes, eram lentas e usavam asas leves. E as tardes, todas as tardes, traziam a moça dos olhos claros. O que mais passava diante da janela era uma gente inútil, para quem nunca usei os meus olhos.
Eu era ingênuo, imaginava tantas coisas puras, os dois juntos, eu e ela: correrias pelo pomar de nossa casa, seu rosto cansado inclinando-se sobre meu ombro, eu terno como jamais fui na vida. E depois a caminharmos pela rua inclinada de calçamento torto que sempre foi um problema para a edilidade.
Mas não guardo a rua, nem suas pedras tortas. Nem guardo sequer a lembrança da moça. Guardo essa coisa difícil: seus grandes, formidáveis, extraordinários olhos claros.(BW)
Amei os olhos!
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