ANDALUZIA: TERCEIRO POUSO
MÁLAGA, abril - Málaga é mar. E o Mediterrâneo contornando a Costa do Sol e já a nos perseguir muito antes que entrássemos na cidade, nos tornou Málaga profundamente simpática. Os navios estão fumegando ali em cima da cidade. Navios de toda parte. De todos os tamanhos. Com gente de todo jeito. Turistas, marinheiros, descuidados viajantes. Por isso, por causa do mar, Málaga é uma cidade agitada. Colorida. Alegre. Antes de percorrermos uma longa estrada atá as margens do Mediterrâneo-praia, onde se ergue Torremolinos, crescendo entre turistas que ali passam suas férias de primavera e verão e fazendo valer o prestígio de seus pescados esquentando a vista do bom comedor, antes disso, fiquemos aqui mesmo, dentro da capital de Málaga, aproveitando esta tarde de sábado, sossegando o corpo displicentemente numa dessas cadeiras de calçada desse bar onde há tanta gente e de toda espécie. Gordos senhores louros, denunciando origens nórdicas, cá estão frente ao copo de cerveja, bem mais saborosa que a má cerveja de Madri, por exemplo, tão aguada. E as mulheres, tão bonitas. Até agora, as malaguenhas são as segundas mulheres da Espanha. As primeiras são mesmo as madrilenhas. Cruzam a nossa frente, falando muito depressa. Em volta, umas tomam sua cerveja com chanquete. Sabem o que é chanquete? Vou comparar mal, mas não tenho outro jeito. Parece isso mesmo: minhoca. São peixinhos miúdos que parecem minhocas, e muito brancos, mas que depois de fritos, sequinhos, no prato, são uma delicia. Me apresentaram aos chanquetes nessa primeira tarde de Málaga, tarde de sábado como ficou dita lá em cima. Ali ficamos a devorá-los, levando-os a boca em punhados, como quem agarra farinha seca. Mais a cerveja, a boa conversa e, a uns cem metros, o mar, colaborando para com uma eventual vida soberana. A cigana corre para nós e, em meio a um pregão ininteligível, nos estende uma porção de coisas da terra para atrair turista. Um espanhol, Miguel, que esta conosco, fala para ela que nada quer, e ante a surpresa do castelhano tão familiar, prorrompe numa gargalhada de lindos dentes alvos, saindo para um senhor louro de sangue quase a jorrar do rosto.
(BW)
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