domingo, 16 de janeiro de 2011

SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ - Bosco Lopes


            SE TODOS FOSSEM IGUAIS A VOCÊ

           Berilo, graças a Deus, você não está vivo para ver a miséria do goveno Collor. A situação está tão ruim, que não dá para o meu consumo diário, no bar do nosso amigo Nazi, jantar no Nemésio, nem pensar! Comprar livros? Só nos sebos. Meu poetinha, tô aqui pensando nas estórias que você contou Não da Espanha, muito menos de São Paulo, quanto mais de Paris; mas por que não, Bira, do Beco da Lama, onde a gente papeava tão feliz?
            Vindo você, da redação ou da Promotoria, pouco importa, o importante é que você vinha cheio de vida e poesia e enchia todos os espaços alegria, mesmo antes de consumir a primeira garrafa de vinho. Balançando seu cabelo louro cacheado, que mais tarde virou preto e que infelizmente a porra do enfarte não deixou ficar todo branco.
            Na função que exercia na Promotoria, estendia-se ao Bar do Nemesio, onde também lá não condenava ninguém. A não ser Dr. Assis, quando não embriagado. Entre os carinhos de Maria Emilia, lembrava os tablados de Espanha. Tão distante do menino do Alecrim, que nos olhos claros via o tempo passar entre feirantes e feireiros.Quem diria que daquela paisagem humana iam nascer e renascer tantas crônica bonitas!
            Pois quem vê não sabe e nem sente. Pois quem sente não vê. E pois quem vê não sente. Se fosse uma questão de vista e se fosse uma questão de viver eu não sentia o arpejo do cego no seu realejo, num bar de um domingo qualquer, na cidade, aos poetas homenagear.
            Bira, você, entre a Augusta e a Angélica, veio reencontrar, entre copos e amigos, no Beco da Lama a consolação.
(Bosco Lopes)

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