domingo, 27 de fevereiro de 2011

TOLEDO


TOLEDO, março de 61 - Aqui está, erguida sobre este cer­ro a cujos pés se deita o Tejo (que em terras espanholas e chamado Tajo), a "Imperial Toledo". Aqui está o mais heróico, o mais no­bre, o mais turbulento, o mais belo do passado histórico da Espa­nha. Hoje, cruza-se suas ruas estreitas e incertas, olha-se seu povo humilde e provinciano e a custo se quer acreditar na Toledo que foi. A Toledo que é, porque foi. Mas a fama militar e politica da cidade aparece, ainda, aos nossos olhos, em cada curva de esqui­na, em cada trecho de rua; são muralhas, são castelos, são tem­plos, são evocações da arte islâmica que hoje se faz espanto de tu­rista e orgulho humilde de uma gente simples.
            Conta a lenda que descendentes de Noé a fundaram, dois mil anos antes de Cristo. Então, era tranquila tanto quanto hoje. Mas depois, vieram os visigodos, que teve um rei chamado Leovigildo que fez da cidade, a sede da Monarquia. E mais depois, Tarik, um chefe árabe, a invadiu, e durante quase três séculos esteve subme­tida ao Califado de Córdoba. As guerras se sucediam, os monumentos de arte se edificavam, e o Tejo seguia, impassível e azul, lá em baixo, doendo-se ao golpe das patas de cavalos de toda a parte. Um dia, no A1cazar, 400 cabeças rolaram. De outra vez, veio um Governador que cultivava a arte refinada de não poupar donzelas. Nos seus mercados, eram estendidas as sedas vindas de Damasco, os tapetes da India, e outras tantas mercadorias trazidas de Alexandria, Ceilão ...
Um dia, houve a Reconquista. Alfonso VI entra na cidade, restabelece-lhe o título de "Primada de las Españas", domina a mouros e cristãos sob seu olhar, sem dúvida firme e forte. Entrou na cidade pela Porta Antiga de Visagra, que ali está, e por onde também há pouco entramos nós, sem alardes, claro, e sem preten­sões a dominar mouros. Essa Porta, estilo árabe do seculo IX, um dia viu pendida de suas pedras lá do alto a cabeça de um "wali" toledano. Hoje, tão simples, Toledo, com um povo que não quer evocar a sua história sangrenta de outrora. Alguns homens se ves­tem a maneira típica de séculos atrás, e cultivando o artesanato de armas e metais, na melhor tradição mourisca, nos falam, a nós estrangeiros que chegamos, com simpatia e delicadeza, negociando seu trabalho, de que vivem. No domingo, as lojas dessas mercado­rias turisticas não fecham, mas, o dono da casa encontra sempre um intervalo no trabalho para convidar o comprador a entrar e tomar com ele um bom copo de vinho tinto de Méntrida ou o branco de Yepes e Talavera. A mulher toledana é de uma graça que o cronista não sabe contar, nem se atreve. É simples como toda pro­vinciana e uma delas achei digna de um estar à margem do Tejo, aos pés da cidade, em hora de por-do-soI como aquele que vi, às 7 horas da tarde daquele domingo.
(BW) 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

REDINHA, ARTIGO 3º


REDINHA, ARTIGO 3º
         
            A graça da semana passada foi à idéia de se mudar para mu­nicípio a Praia da Redinha. E a idéia partiu dos nossos deputados, como não poderia deixar de ser. Promovida a município, adeus simplicidade poética da Praia da Redinha. Vai ter que cumprir di­reitinho o artigo 3.° da Lei Orgânica dos Municípios. Isto é, vai ser obrigada a ter 10 mil habitantes, a ter uma receita tributária anual mínima de 50 mil cruzeiros, a ter sua Prefeiturazinha, seus ilustres vereadores, além de mercado, matadouro, açougue e cemi­tério. Muita responsabilidade para quem até hoje tem levado uma vida de praia despreocupada, lírica e honestamente.
           Os pescadores vão esquecer os peixes e já não procurarão as praieiras morenas, para contar-lhes lendas dengosas, mas para pe­dir-lhes votos, porque vão ser vereadores. E todos eles se despren­derão da espontaneidade que vestem, para fazerem discursos, me­tidos em camisas e gravatas que não lhes assentam. E esquecerão as modinhas e esquecerão as jangadas.
           Lá se vai embora a Redinha dos nossos sonhos! Vai burocra­tizar-se, vai meter-se a "noveau riche", sem poder. O pior é isso: que será tudo falso, antinatural.
           As ondas vão recuar de lá e vão jogar-se mar a dentro. E acompanhando as ondas, homens e mulheres que veraneavam, à sombra dos seus dezembros, repletos de cajus cheirosos e canto­rias de fandango e bumba-meu-boi, irão sossegar em outras praias, pois sentirão que a Redinha não será mais a de outrora. Com seus 10 mil habitantes, com sua receita tributária anual de 50 mil cru­zeiros para cima, com sua Prefeiturazinha e seus vereadores, en­chendo uma Câmara pequena de projetos desnecessários, tudo se­rá sem graça.
           A Redinha deve continuar é sendo praia. E com ela, os jan­gadeiros, as casinhas escassas, e os cobiçados cajueiros de dezem­bro. Prá que a Redinha com artigo 3.0? Prá que?
(BW)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

PARIS

PARIS, 1º de janeiro - Esta que, em sonhos idos, julguei inacessível a mim, é agora este sonho palpável, este presente de ano novo que tenho nas mãos com jeito de quem não merece, en­cantado e nervoso. Desde que cheguei no dia 28, depois de uma atribulada viagem de trem onde um casal de velhos franceses se esmerou em gestos e palavras de má recepção, de donos de casa aborrecidos com a chegada da visita imprudente (recepção essa que tanto eu como meus amigos brasileiros concluímos por não aceitar), desde que cheguei, dizia, tenho sentido momentos em que me paro dentro de mim e provo das reações que o presente me proporciona e absorvo o gosto. É Paris para um namorado antigo como eu, que por motivos alheios ao amor, passou tantos anos de conversa de portão, sem poder ver realizado o casamento o que está feito agora.
            Poderia contar tudo em forma de diário, registrando as emoções de cada hora. Emoções simples de péssimo turista, mas de óti­mo amante. Não é que eu odeio os turistas, não. Até os acho a eles todos umas perfeitas crianças. Que dizem com jeito peculiar: "Que beleza!" diante da Torre Eiffel, com a mesma expressão de um garoto que segura nas mãos o brinquedo sonhado por trás da vitrine da loja. Mas prefiro o não-compromisso do diário.
             Desço pelas ruas de Saint Germain de Prés. Neste bairro me hospedo, num Quartier Latin, onde, negros de rostos ameaçadores vivem a discutir a questão argelina, vez ou outra bem ao meu lado, na mesa onde tomo um vinho ou no "metrô" em que viajo por de­baixo de boulevares e do próprio Sena. Por enquanto a chuva miú­da. Depois ela vai e o frio é que permanece. Um conhaque me alenta e saio andando. "Andar, andar, que um poeta não necessi­ta de casa". Sempre dei fé ao verso de Cecília Meireles.
            Vou procurando certos lugares que me trouxeram a Paris e encontro coisas e seres que só Paris possui, relutantemente, turisticamente. Assim é que ao sair da Catedral de Notre Dame, onde o sagrado de Deus se une ao sagrado da arte dos homens, caio nas garras do vendedor de fotos pornográficas. Achou-me com cara de estrangeiro e, ai de mim, de lúbrico. Para eu entender o francês tem que ser falado devagar, e o homem me fala às carreiras naturalmente com medo do gendarme que possa querer jogar-lhe a lei nos ombros. Tento fugir ao homem, mesmo porque não sou aluno de internato para emocionar-me com fotos pornográficas. Enfim consigo e saio na chuva. Outros vendedores iriam encontrar, depois. 
            Sem a chuva, o sol não vem de preguiçoso que é. Estou agora à ponta desta calçada, nesta mesa, cercado de alguns brasileiros: João Luiz, Helena, Lúcia, Dinorah, Aluízio. Eles conversam não sei o que. Um ou outro se sente turista. Outras mesas, outras ca­deiras, outros seres, pela calçada. Uma dessas calçadas líricas de bar que Paris sabe ter, guardando uma poesia especial, que Recife já imita bem e que já aconselhei tanto, e em vão, até agora, ao meu caro Múcio Miranda; conselho de quem quer uma "Cisne" cada vez mais simpática.
            Tomo um gole de cerveja, o que não é novidade. Aquele su­jeito de barba, ali de frente, também toma a sua. A vantagem dele sobre mim é que está com uma francesa e eu não estou. Também, tem muita graça! Paris, além de me deixar entrar, ainda me dar mulher! Estaria eu do jeito daquele visitante que na casa de um amigo, á hora do lanche, disse que com a marmelada e o quei­jo, desejava, também, "se não fosse muito incômodo", a filha bo­nita da casa. Mas lhes falava do sujeito de barba. Lê um livro, dá um beijo na companheira, e muito sério, torna a ler o livro. Vez por outra, entre as duas leituras, toma um gole de cerveja, em vez do beijo. E nessas alterações fico à espera de uma confusão, como por exemplo, que ele beije o livro, leia a cerveja e beba a mulher. O que, felizmente, não acontece; mas a crônica de Paris afirma que já aconteceu. E eu acredito.
(BW)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

LEMBRANDO BERILO - Rubens Lemos Filho

LEMBRANDO BERILO          

             Faltava um mês para eu completar nove anos. Ao chegar à escola, regras ditadas por freiras rígidas, que enfileiravam alunos e expulsavam inadimplentes em nome de Jesus Cristo, os amigos estavam todos juntos, aos lamentos: “Rubens, morreu o pai de Milena Wanderley”.
            Incrível a proibição de não se chamar os alunos pelo apelido. Eu era, como até hoje sou, aos 40 anos, conhecido muito mais por Rubinho em função de Rubão, meu falecido pai. No colégio das freiras, eu era Rubens e tinha que ser Rubens.
Se houvesse outro Rubens na sala de aula, elas não exageravam como os locutores de rádio de muito outrora, que batizavam por exemplo, Alfredo Primeiro e Alfredo Segundo. Seríamos Rubens Silva e Rubens Lemos ou Rubens Filho, que era, certamente, para não confundir com o meu pai ou o do homônimo colegial.
Depois dos meus rodeios, provocados pelas explicações justas, retorno ao primeiro parágrafo. Naquele julho de 1979 eu já sabia que o pai de Milena Wanderley, uma aluna loirinha mais nova que eu, havia morrido. A notícia fora dada aos prantos pelo meu pai. Muito amigo dele, que se chamava Berilo Wanderley, poeta, professor e jornalista. Ultimamente andavam bebendo muito juntos.
Suas viúvas se tratam feito irmãs até hoje, Isolda, minha mãe, Maria Emília, mulher de Berilo. Gosto  de Rômulo, Henrique, o Poetinha e Alexandre, os três filhos homens que seguem a vida com  a dignidade herdada. Milena mora na Suécia.
Papai, que era um inventivo, um ciumento agresssivo e possessivo dos amigos, resolveu  que os sábados de Berilo eram ao seu lado e o apresentara a uma novidade boêmia de Natal, o Café Nice, um boteco no Alecrim onde se tocava e cantava MPB de qualidade e sambas que falavam em amores e desilusões. Papai e Berilo chegaram a compor um samba, gravado recentemente pelo meu irmão, Camilo.
Então a notícia da morte de Berilo me assustou, aos oito anos de idade, por ver o meu pai, pela primeira vez, chorar como uma criança, rosto coberto pelas mãos, num pranto doloroso e assustador. Eu era pequeno e naquele tempo a morte não aparecia tanto. Berilo Wanderley virou uma lenda para mim.
Sempre que visito o seu túmulo, no Cemitério do Alecrim, a algumas quadras de onde repousam os restos do meu pai, paro e leio o poema perfeito em que ele narra a própria decomposição, numa beleza que nada tem a ver com a tragédia funeral. É uma declaração de amor para Maria Emília.
Berilo Wanderley foi o copidesque de vários bons repórteres de Natal. Era preciso saber escrever bem para que ele pudesse publicar um texto de alguém. Naquele tempo, dominar as palavras  era padrão de competência. Com papai, foram do Diário de Natal ainda na Avenida Rio Branco.
Faziam reportagens a pé. Numa delas, Berilo foi ao Beco da Lama, pelo início da década de 1970 e escreveu um texto impecável, uma aula de jornalismo de ambiente, esquecido na pressa em nome da qual se assassina o idioma pátrio. Achei na internet e relembro Berilo Wanderley que me reaparece num momento oportuno, como se me vingasse daquelas freiras carrancudas. E curasse todas as feridas invisíveis.
(Rubens Lemos Filho)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

LEMBRAÇAS DE BERILO - Luiz Carlos Guimarães

           

               Lembro Berilo Wanderley, os passos apressados, o riso de mansidão, o olhar a ver as coisas por dentro, a eloquente linguagem dos gestos a dar novo colorido à palavra. A madrugada e os passarinhos de seu jardim o acordavam para a crônica diária. O tema constante foi a cidade e seus habitantes. Na maioria personagens anônimos do cotidiano, humildes, sem horizontes, deserdados da esperaça. Na leveza de seu estilo, nimbava-os de poesia, ironia e ternura, e na revelação de seu mundo revelava o amor por Natal, a sua musa inspiradora. Em fogo brando que dura mais que a chama da paixão, sem altear a voz, talvez por timidez, como a sussurrar um segredo de bem-querer à mulher amada. Berilo Wanderley escreveu com sua vida uma canção de amor a cidade do Natal.
             (Luiz Carlos Guimarães)

AS VIZINHAS

AS VIZINHAS

            Acordei com uma vontade de conversar com todo mundo, de sorrir com todos e de dizer coisas engraçadas. Ao abrir a janela do quarto, que se escancara para um pomar cheio de frutos e de pássaros, gozei toda a alegria da manhã, que vinha doce e terna, como uma canção cantada por uma mulher bonita, de manhã cedo. Mas, não havia moça, nem bonita, nem feia, cantando nessa manhã. A vizinha ainda estava de janelas fechadas e, decerto, nem sentia a força do sol batendo num abraço quente, sobre o seu quarto. Como ninguém cantava e os passarinhos de todas as manhãs não vieram soltar seus madrigais nos verdes do pomar, pensei em assobiar qualquer coisa. Lembrei-me de uma valsa velha que minha mãe me ensinara há muitos anos, e assobiei. Já depois, saía pela rua, à procura da fila de ônibus, e me encontro com a velhinha magra e baixa. Mora perto de minha casa, e sua casinha também é igual a ela: baixa e magra.
            - Como vai, moço, com sua felicidade? - perguntou-me a boa velha, sorrindo santamente.
            A pergunta mansa da vizinha antiga deu-me uma vontade danada de dizer que ia bem, coma felicidade. Porque eu vou bem, mas sem ela. Ir bem com a felicidade já é ter muito. E quem sou eu, moço de olhos pobres e coração amável, para poder encontrar felicidade, como muita gente encon­tra, em toda esquina? Já me conforta ir bem e poder responder sorrindo a boa velha, e cantar de manhã cedo quando os canários não cantam, em meu pomar. Continuo andando e, na esquina, a moça que varre a calçada, de chinelos e vestido aberto na cintura, num desleixo matinal que Deus perdoa, olha para mim, vira o beiço e diz achar que estou engordando. Sorrio e paro, um instante, para lhe dar "bom-dia". Ela escora-se à vassoura e me confessa que está triste, nessa manhã. A primeira tristeza que encontro e logo perto de casa. Mau, muito mau. Não quero entristecer por causa da tristeza da moça de cintura aberta. Quando ela fala que brigou com o noivo, na noite anterior, tranqüilizo-me, porque sei que o noivo volta. E saio, conformando-a:
            - Não se aperreie por isso, menina. Seu noivo voltará. Nem que seja para fechar-lhe a cintura.
            Ela deu um muxoxo e voltou a varrer a calçada. E eu vou varrendo da lembrança a tristeza da moça, tão desnecessária nessa manhã e continuo andando, sentindo remorso de não ter mentido à velha. Eu devia ter dito que a felicidade ia comigo. Não custava nada ter dito.
(BW) 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

NO LARANJAL

Nos pés do laranjal adormecido.
Com todos os mil diabos, onde li isto? É de uma canção popular ou de um bom poeta antigo? O certo é que esse decassílabo não é meu. Acabo de ver um laranjal, frondoso e inundado de um cheiro bom e ácido, e o verso me veio à lembrança.
Então, que fique o decassílabo, seja de quem for, e o que mais eu vi. Laranjas gordas e amarelas. Seios quarentões. Aqui e ali, uma laranja no chão, com jeito de cansada e cheia de oferecimentos como certos seios se dão. Em um galho do laranjal, mais para um canto do quintal, dois pássaros. Um conversa com o outro. Vou me aproximando com jeito, para não espantá­-los. Quero reconhecê-los e dar aos dois um cordial bom-dia.
Mais para o fundo do quintal, lá junto ao muro, onde um pequeno córrego canta suas águas tranqüilas, uma moça lava umas roupas e canta uma canção qualquer. As moças já não mais existem, estão todas nascendo mulheres, cheias de sabenças do mundo que as moças de antigamente não sabiam. Aquela acolá deve ser uma moça diferente. Canta e lava roupa, à margem de um córrego manso, cercado de um laranjal.
            Chamem depressa um poeta para cantar esse quadro!
            Volto depois de apanhar três ou quatro laranjas maduras do chão, que logo estou partindo com uma faca de agudo corte, abrindo em gomos amarelos. Seios partidos. Maduros e partidos.
            Duas doses de cachaça fazem o resto da manhã.
(BW)

ANDORINHAS



ANDORINHAS

Andorinhas! andorinhas!
lamenta! vosso poeta!...
Tendes asas, tendes canto.
Minhas asas são quebradas
e o meu canto não têm eco ...

Por que cantais, tanto, tanto?
Alguma andorinha nova,
trazida por vosso canto,
ao vosso bando chegou? ...
Uma andorinha perdida,
que se perdeu nesta vida
e o vosso bando deixou? ...

Andorinhas! andorinhas!
minha noiva foi-se embora
e até hoje não voltou ...

Andorinhas! andorinhas!
Encontrareis vossa noiva.
Procurai-a pelo azul.
Talvez esteja no norte,
talvez esteja no sul...

Andorinhas! andorinhas!
lamentai vosso poeta! ...
Ah! como eu canto, andorinhas!
procurando a minha amada ...

E as minhas asas quebradas? ...
E as minhas asas quebradas? ..
 (BW)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

OUTRA PÁGINA PARA BERILO - Paulo de Tarso Correia de Melo


OUTRA PÁGINA PARA BERILO

            Um ser humano aprende, principalmente, com livros, viagens e amigos. No caso dos dois primeiros itens, deve-se fazer boas escolhas; quanto ao terceiro é preciso acrescentar-se a elas um tanto de sorte. Nos meus encontros de amizade considero-me um privilegiado: Zila Mamede foi amiga da família desde a infância; Newton Navarro, Dorian Gray e Francisco das Chagas Pereira foram meus jovens professores de ensino médio e Berilo Wanderley foi um caso à parte. Berilo gerenciava a formação de uma geração de jovens cinéfilos e críticos incipientes. Quando viajava pedia a alguns deles que o substituíssem na coluna diária que mantinha na Tribuna do Norte. Foi assim que apareceram escrevendo em jornal, Moacy Cirne e eu, corroborando o que sempre pensei: era preciso, pelo menos, dois de nós para fazer o que Berilo fazia sozinho.
            Interessados em arte e literatura desde sempre, passamos então a conviver com a chamada “igrejinha”. Casados no grupo eram Deífilo e Zoraide Gurgel, Luís Carlos e Leda Guimarães, a dama do vestido lilás, Augusto Severo Neto e o jovem e até este titulo precoce Nei Leandro de Castro, noivos eram Dorian e Wanda, Francisco Pereira e Selma, Berilo e Memilia, minha colega de ginásio. Já quase solteiros juramentados eram Zila Mamede e Newton Navarro e ainda namoradores os da nova geração daquele tempo: Sanderson Negreiros, Miguel Cirilo, Diógenes da Cunha Lima, Moacy Cirne e eu.
            Jornalisticamente, Berilo era o grande sucesso do grupo, graças à coluna diária Revista da Cidade que incluía uma crônica ora lírica, ora cáustica, além de comentários sobre filmes em exibição e notícias culturais e literárias. Moacy e eu tínhamos muito trabalho para “fazer-lhe as vezes” nas tais substituições.
            Berilo era também poeta publicado, embora, já abjurasse injustamente nessa época o seu Telhado do Sonha. Nunca entendi porque o fazia, como acontecia também com Newton Navarro em relação ao subúrbio do silêncio. Eram ambos livros de estréia de valor, ainda a merecer estudo e análise aprofundados.
            Posteriormente, Berilo teve várias coleções de crônicas publicadas. Apresentei ultimamente Cine Lembranças, seleção de comentários cinematográficos organizada por Memilia.
            Repito enfim as palavras de Dorian Jorge Freire: Berilo foi um farol que apontava caminhos. Quando se apagou foi que nós, seus leitores, notamos quanto ele iluminava. Na primeira edição desta Memória, ainda impacto e desnorteamento da perda, não existe palavra ou Imagem da dupla de substitutos.
            Por solicitação de Memilia e Abimael, alinhavo agora estes parágrafos onde se misturam às lembranças de belos tempos a gratidão pela influência positiva e formadora do amigo e a permanente perplexidade pela sua ausência.
 (Paulo de Tarso Correia de Melo)


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MAR

            MAR

            Estamos em cima da praia, diante do mar. O que nos encanta no mar, não são as suas águas; é a sua distância. Infinito de água azul se estendendo nos longes dos olhos, até se não ver mais nada e se adivinhar tanto, que beleza! Deitamos os olhos nas primeiras águas, que vêm quebrar-se em ondas festivas, aos nossos pés, e te­mos vontade de ver o resto. De pisar no profundo da água e sentir-­lhes mais de perto os cantos. Ah, as líquidas canções marinhas, que dizem elas? Decerto falam de sereias, de entes misteriosos que os olhos profanos dos homens nunca viram. Falam de Ulisses que as atravessaram, dos suicidas que guardaram para sempre com queixas e sentimentos recalcados.
            Dentro do mar, em cima da areia da praia, enquanto as on­das lambem nossos pés, com suas línguas salgadas, pensamos em tudo isso. Se houvesse mais alguém conosco, talvez esqueceríamos essas histórias que o mar insinua. E talvez, apenas, seu marulho, naquela inquietação indormida, nos chegasse aos ouvidos. Perto de nós há um coqueiro de raízes retorcidas, fora da areia branca e corpo esguio se lançando às alturas. Lá em cima, lançando-se aos quatro ventos que chegam salgados das bandas do morro, abrem-­se as palhas. Elas, as palhas, chilreiam, no vento, ao contato uma das outras. Nessa solidão, tudo isso nos encanta.
            E como não há ninguém conosco, a lembrança se sente livre e voa. Como os bons pássaros sabem voar. E voa longe, o que é pe­rigoso. Nessas vezes, chegamos a ter medo de nossa própria lem­brança. Uma lembrança por longe, pode muito dar o que fazer, du­rante todo um dia e, principalmente, de noite, quando as virtudes se negam.
            Voltamos a olhar as ondas que escorrem e achamos gra­ça numa coisa. As ondas são parecidas com certas mulheres: correm para perto de nós e quando corremos para elas, depressa elas fogem. Ondas. Mulheres. Algumas, cheias de espumas, se dissol­vem, quando as tocamos. Se desfazem nas mãos.
O mar se estende. O nosso olhar se estende. Como os longes do mar nos fascinam...
(BW)

SONETO DA MOÇA QUE MORREU VIRGEM

SONETO DA MOÇA QUE MORREU VIRGEM

Quando eu entrei na sala, vi a morta
branca, bem branca, de olhos estagnados,
olhando para tudo e para nada,
com um desdém nos lábios contraídos.

Um rapazinho, amigo da família,
me sussurrou que ela morrera virgem,
e que seu corpo, que ninguém beijara,
era tão casto e branco, como os lírios ...

A mãe dela chorava quase nada.
A um canto, junto à morta, cochilava,
escorregando um terço nas mãos gordas ...

Se entrava alguém na sala, abria os olhos
e dizia que a filha inda era virgem
e que as virgens vão todas para o céu! ...
(BW)

SAÚNAS NO CAIS


SAÚNAS NO CAIS

             O sol quebra-se por trás do rio, que corre, lento quase cansa­do. Meu rio de águas sujas no qual o poeta Itajubá, em época mais distante, via um lençol azul de águas diáfanas que o inspiravam para bonitas estrofes. Na beira do cais, absorvo o cheiro de ma­resia, que se mistura ao dos peixes que se estendem, olhos de vi­dro arregalados, sobre as tábuas das barracas.
           Um pescador bêbado, como gostam de viver os pescadores, puxa conversa ao meu lado e aconselha-me uma cioba de corpo róseo tão lânguido, que faz lembrar o corpo de certas mulheres quando se espreguiçam na areia da praia. Corpo de mulher esten­dido na areia - quantas canções, quantos poemas já inspiraste e quantas e quantos hás de inspirar ainda! Cadê os poetas e os can­tores da minha terra, para virem cantar as ciobas e as mulheres róseas e lânguidas?
           Digressões com cioba e mulher à parte, estou no cais, en­chendo os pulmões de maresia, e, antes de levar a cioba para casa, aceitando os conselhos do velho pescador, penso em Dona Elvira, e sinto saudade das saúnas fritas que gosto de ver chiar dentro da enorme caçarola tisnada.
           Atravesso a torta e barulhenta Rua da Floresta recebo a agres­são de uma radiola que manda para o ar uma paixão desesperada que, neste momento, Aguinaldo Timóteo nutre não sei por quem ... e eis que estou diante da casinha da gorda e corada Elvira. Maçãs do rosto rosadas, de tanto ficarem diante do braseiro dos pei­xes, me recebem com o riso aberto de velha e imorredoura amiga.
           Diante dela, diante de mim, a separar-nos, peixes dourados de dendê e tapiocas de uma pureza imaculada. Tudo é felicidade no coração deste guloso, transbordando de apetite. É a hora de esque­cer as angústias e os cansaços. A cerveja chega geladinha e ex­plode numa festa de espuma dentro do copo. Em volta nas pare­des, os santos e os representantes do sincretismo religioso que a dona da casa cultiva. Ela, toda sorrisos traz as saúnas e a tapioca. O molho de pimenta malagueta também é imprescindível.
            Do fundo da rua, uma voz de cantor que não conheço ester­tora, machucada de amor.
(BW)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

QUANTO MAIS POÉTICO MAIS VERDADEIRO - Moacy Cirne

QUANTO MAIS POÉTICO MAIS VERDADEIRO

De cronista cinematográfico, nos anos 50, a crítico de cinema nos anos 60 e 70, a trajetória jornalística de Berilo Wanderley sempre se marcou pela elegância estilística e pelo conhecimento do objeto estudado. BW, como se assinava, era uma referência para todos nós, cinéfilos apaixonados de então.
Em 1957, eu já era um leitor atento das crônicas de BW: o meu interesse crítico por cinema começava a se plasmar. Neste particular, a sua importância adquiria contornos definidos. Mesmo quando não concordava com suas opiniões, procurava respeitá-las. Procurava  redimensioná-las.  
Afinal, a opinião de Berilo sobre cinema e sobre as coisas da vida era por demais importantes para muitos e muitos admiradores de suas escrevências, sempre sensíveis, sempre inteligentes. Uma citação de Novalis, colocada como epígrafe ao artigo sobre "Mon oncle", de Jacques Tati, serve para dar forma ao seu universo vivencial e existencial: "Quanto mais poético, mais verdadeiro". Em Berilo, quanto mais poético mais cinematográfico; quanto mais verdadeiro, mais humano. Sem dúvida, o sentido de humanismo que atravessa a crítica de BW, mesmo quando carregado de amargura, mesmo quando carregado de desencanto, contem os signos da mais pura ternura humana. Quem conheceu Berilo de perto, sabe muito bem o quanto ele era docemente humano, demasiadamente humano.
Suas cine lembrança o mostram de modo bastante claro. Assim como revelam, por outro lado, como era prazeroso ver filmes em Natal.
Berilo Wanderley mais do que um ícone da crítica cinematográfica natalense, um exemplo de comportamento humano, jornalístico e intelectual.
Moacy Cirne

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

BERILO, O QUE PARTIU CEDO - Grácio Barbalho


BERILO, O QUE PARTIU CEDO        
  
         Termina o primeiro decênio a contar do dia em que, ao se despedir dos amigos, deixou Berilo aquele vazio espiritual que se continua ao longo dos anos.
         Um desses amigos está aqui presente. E pode revelar o que em conversa evocativa, sempre, repete: "Berilo Wanderley está entre os três amigos que perdi e somente eles permanecem na minha lembrança".
         Nossa amizade foi certamente estruturada pelo cultivo da música popular romântica, seguindo daquele convívio em noites inesquecíveis, guiadas pelo som e pelo culto do bom vinho. Relei, então, duas cartas que me enviou, uma de São Paulo e a outra de Madrid.
         Na primeira, discorre sobre o compositor Ataulfo Alves, desaparecido dias antes, lembrando que eu deveria estar reunindo amigos em torno de minha discoteca para homenageá-lo. E ainda: "Você é o primeiro amigo a quem escrevo, antes, somente para a família. Vindo a São Paulo, devemos nos encontrar para um bom vinho".
          Na carta enviada de Madrid, oito anos antes, já dizia:" Aqui, pelo carnaval, fiz valer um pouco de marchinhas antigas. Tudo em casa de uns franceses muito simpáticos". E finalizava: "Basta de música. Até junho próximo, quando aí aportarei, cheio de terra alheia e de céus que não são meus. Saúda-lhe do alto de um belo vinho andaluz, o amigo Berilo".
          Trago a presença evocativa contida nestas duas cartas para fortalecer, no instante em que aumenta a saudade do amigo que se foi, aquilo que escrevi em sua memória. Revelava, então, os nossos primeiros encontros, a autenticidade de sua predileção pela linha melódica do passado, justamente na época em que a nossa música popular seguia novos rumos, o incentivo a minha coleção de discos, a sonoridade do violão noturno pelas madrugadas, as motivações do estilista romântico nos tópicos de sua coluna em jornal da cidade.
          Que me seja permitido encerrar este esboço de singela evocação, transcrevendo as palavras finais do que lhe dediquei nas paginas daquele livro editado em louvor de sua memória: Berilo partiu cedo. Se lá encontrou alguns dos seus amigos espirituais, certamente estará dialogando com eles.
          Argumentará com a mesma jovialidade com que, em vida, usava ora a sátira ora a rebeldia para livrar-se do que Eça definia como a "pardacenta rotina da cidade". Enquanto deste lado
Berilo tornado água-marinha poderá fulgir ainda por muito tempo na lembrança de seus verdadeiros amigos.
(Grácio Barbalho)

A VOLTA

        
  A VOLTA 

           MADRI, janeiro de 1961 - Outra vez em Madri, num reencontro que já me identifica com a alma da cidade, que já me apon­ta rostos amigos e recantos, se posso dizer, familiares, com esse ar de aconchego de casa da gente. Indo a Paris e voltando agora, aprendi que entre Madri e este seu eventual cronista já existe uma cordialidade, um jeito de amigos íntimos, que o mesmo cronista, tão comovido, agradece. Afinal, foi amargo tudo naqueles primei­ros dias, - gente, casas, ruas. Hoje, até esta solidão nos livros de­vo a Madri. No coração, desamores.
             E a memória de Paris. Que é sonho outra vez. Paris foi para mim tudo aquilo que eu disse, mais o que não sei dizer, para lem­brar a querida Amália Rodrigues falando do seu fado. O que se ama verdadeiramente não se sabe contar, disse eu mesmo numa carta a um amigo, dias atrás. E esse aquilo pode ser mulher, rosa ou cidade. Hoje, se relesse as crônicas em que falei de Paris, talvez reconhecesse que não disse nada. Sempre fui assim, até nos meus verdes anos de poeta em que em nenhum só soneto soube encon­trar o encanto exato da mulher amada. Foram-se os sonetos, as amadas. Ficou o jeito de não saber contar do amor. Bem, mas Pa­ris já se foi, igualmente.
           Em Madri, novamente cercado e integrante desta variada fauna de rapazes sul-americanos deste Colégio Mayor N. S. de Guadalupe. Isto é, alguns já não mais rapazes: homens maduros, com filhos e cabelos brancos. A mim mesmo chamar-me rapaz tal­vez seja atrevimento. Esses dois cabelos brancos, que uma antiga namorada tão marotamente descobriu em minha cabeça, essa mes­ma cabeça cheia de problemas, esse coração batendo cada vez mais forte ... Sei lá se isso é ainda ser rapaz. Mas uma canção que alguém canta me faz jovem. Ou o céu claro. Ou a flor vermelha no jardim do Colégio, irmã daquela outra que furtei numa incerta se­gunda feira, aproveitando a ausência de qualquer pessoa por per­to. (Sou um romântico tímido).
(BW)

POEMA - Ilustração de Franklin Jorge


Poema

O sol dos teus olhos foi que
amadurou meus olhos.
A rosa da tua boca foi que
perfumou a minha boca.
A doçura do teu amor foi que
adoçou a minha vida.
E hoje minha vida é feliz.
Como uma janela aberta para uma manhã de sol.
Feliz como alguém de assobia
na rua e passa.
E a tristeza que outrora
guardei como rosas tristes,
plantei entre pedras e não medraram
nunca mais.
Agora canto como as fontes,
que as dores mal nascidas secaram
e morreram à beira do caminho.
(BW)

REDOND (ILHA) DE BERILO - Diógenes da Cunha Lima



REDOND (ILHA) DE BERILO

Grossa saudade, poeta,
De tua conversa mansa,
De teu riso com Mimosa,
Maria Emília, lembranças
Peixe, pirão, Pirangi,
A cana, a cantiga, a bossa
De viver neste iludir
Que é a vida, poeta
Escondido dos amigos
Entesourado de ser
Entravas dentro de ti
Na tua toca de anjo.
Continuam em meus ouvidos
Estórias que tu contavas,
Com graça, com gestos lentos,
De Santa Cruz de Inharé
Em Mossoró tinha um noivo
- poeta cheio de amores
Para a Princesa da Bélgica:
- Ruge, ruge, tempestade,
As baterias tomadas
E as mulheres de Mossoró
Se banham de madrugada

Ah, poeta, foges mundo
Pra ilha que tu sonhaste
Com enormes caranguejos
Vermelhos, pelas encostas.
 A ilha está povoada
De tua múltipla presença
Sonham contigo esmeraldas
Águas-marinhas aos centos,
Uma ilha hexagonal
Cristalizada, possível,  
No coração dos amigos.
És tu a ilha, Berilo.

(Diégenes da Cunha Lima)

QUERIDOS POETAS - Ney Leandro de Castro

QUERIDOS POETAS

           Faz trinta anos que Berilo Wanderley nos deixou. Mas, para quem o conheceu, a sua presença continua forte, marcante, o tempo não consegue apagá-la. Berilo era essencialmente um poeta, bom poeta, embora – por conta de uma autocrítica muito severa – tenha escrito apenas um livro de poemas, que desprezaria depois de publicado. Berilo era um excêntrico, mas sua excentricidade não chateava ninguém. Tranqüilo, amava a vida, degustava a vida como se degusta um vinho da melhor qualidade. Era um apaixonado, um enamorado de Maria Emília. Vi muitas vezes os dois, mesmo depois de casados, no Granada Bar, olhos nos olhos, mãos nas mãos, como adolescentes no primeiro caso de amor. O clima amoroso era tão intenso que só os indiscretos se aproximavam. Berilo amava sua cidade e a recíproca era verdadeira. Quando voltou de uma temporada em Madri, houve uma passeata do aeroporto até a sua casa, com passagem triunfal pela avenida Rio Branco. Só vi algo parecido na adolescência, quando Marta Rocha, a mais famosa miss Brasil, desfilou em carro aberto pelo Grande Ponto, vestida de maiô. Berilo e Newton Navarro foram os cronistas que mais cantaram a cidade de Natal (que idiotas teimam chamar de cidade do Natal). Eram canções de amor, exibidas nas páginas da Tribuna do Norte, e também críticas lúcidas e severas às mazelas que acometem toda cidade. Berilo, ao contrário de Newton, nunca deixou que umas doses a mais interferissem na sua ternura. Jamais foi visto zangado ou com maneiras agressivas. Era sempre calmo, ouvia mais do que falava e, quando se sentia aborrecido com alguma coisa, alguma conversa muito comprida, dizia, sem alterar a voz: “Bom, basta.” E tomava o seu rumo, na companhia de uma batuta de bambu, como se fosse um maestro das doces melodias da vida.
        Berilo tinha 45 anos quando se encantou, como diria Guimarães Rosa. Luís Carlos Guimarães nos deixou às vésperas de completar 65 anos. Lula se despediu dos bares, dos amigos, da poesia, numa segunda-feira, com muitas taças de vinho e doces confissões. À noitinha, ao chegar em casa, deparou-se cara a cara com a indesejada das gentes. Sem dúvida, um dos meus maiores amigos. Em 1976, ele foi fazer um curso na Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, e se hospedou no meu apartamento durante seis meses. Conquistou vizinhas, cozinheiras, garçonetes, doutoras, viúvas, coroas, moçoilas, casadas e solteiras, com aquele seu charme de encantar multidões. Mas, como havia assumido com Leda um compromisso de castidade, essas conquistas nunca ultrapassaram os limites da relação platônica. Fui com ele à casa de Pedro Nava, na Glória, e o maior memorialista do Brasil de todos os tempos ficou encantado com a conversa e o jeitão de Lula. Nava se soltou, contou casos engraçados, como o que ocorreu com os móveis de sua sala. Chateado porque a mulher dele trocava a posição dos móveis com muita freqüência, Pedro Nava mandou fixar no chão, com parafusos, o sofá e as poltronas. Depois de ler “Ponto de Fuga”, o grande Nava pediu a Luís Carlos um poema para usar como prefácio de um dos seus livros. O poema “Naveana do Galo-das-Trevas” está no sexto volume de memórias do escritor mineiro.
         Berilo Wanderley e Luís Carlos Guimarães. Ternura, poesia, talento, saudade.
(Ney Leandro de Castro - 24/07/2009)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

BLOG LETTERI CAFÉ

CASCUDIANA

O poeta Berilo Wanderley ficou indeciso no exame oral sobre
guerra submarina. Começou a falar:
- O sub... - e fez com a mão um gesto indicativo de submersão.
- Estou satisfeito – interrompeu Cascudo. – O senhor está
aprovado.

HOMENAGEM DOS ALUNOS DA UFRN

ALUNOS DA UFRN CRIAM TV BERILO WANDERLEY

Integrantes do Centro Acadêmico dos cursos de comunicação social encontraram um jeito original de chamar a atenção dos estudantes de Jornalismo, Publicidade e Rádio e TV para o que ocorre dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os membros do Centro Acadêmico criaram a TV Berilo Wanderley, direcionada para as questões que dizem respeito aos alunos e a universidade federal.
A TV BW, é composta por mini- programas e é veiculada pela internet através do canal de vídeos YouTube. A idéia veio através dos membros do C.A., que após dois anos de gestão sem respostas por parte dos alunos, resolveram colocar em prática o aprendizado para chegar até o estudante. “Se o estudante não vai até o CA, o CA vai até o estudante!”, afirma Pryscila Miranda, coordenadora de comunicação do Centro Acadêmico e aluna de Jornalismo. O desinteresse do aluno pelo que acontece dentro da esfera acadêmica é o maior estímulo para realização desse projeto.
Por ser feito de forma independente, o programa enfrenta dificuldades para a sua realização, como a questão dos recursos básicos para a gravação. Apesar dessas dificuldades, a internet ajuda bastante os alunos. “A internet é uma ferramenta fortíssima que usamos a nosso favor. No primeiro programa no YouTube depois de uma semana já tinham mais de 300 exibições”, afirmou Pryscila.
O projeto foi recebido de forma positiva pelos alunos de comunicação. “É uma idéia bastante interessante, uma maneira de movimentar o que está estagnado e de mostrar que ainda existe gente querendo mudar algo” disse Leonardo Dantas, aluno de Jornalismo.
(Ana Caroline Carvalho 25/04/2010)