quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

OUTRA PÁGINA PARA BERILO - Paulo de Tarso Correia de Melo


OUTRA PÁGINA PARA BERILO

            Um ser humano aprende, principalmente, com livros, viagens e amigos. No caso dos dois primeiros itens, deve-se fazer boas escolhas; quanto ao terceiro é preciso acrescentar-se a elas um tanto de sorte. Nos meus encontros de amizade considero-me um privilegiado: Zila Mamede foi amiga da família desde a infância; Newton Navarro, Dorian Gray e Francisco das Chagas Pereira foram meus jovens professores de ensino médio e Berilo Wanderley foi um caso à parte. Berilo gerenciava a formação de uma geração de jovens cinéfilos e críticos incipientes. Quando viajava pedia a alguns deles que o substituíssem na coluna diária que mantinha na Tribuna do Norte. Foi assim que apareceram escrevendo em jornal, Moacy Cirne e eu, corroborando o que sempre pensei: era preciso, pelo menos, dois de nós para fazer o que Berilo fazia sozinho.
            Interessados em arte e literatura desde sempre, passamos então a conviver com a chamada “igrejinha”. Casados no grupo eram Deífilo e Zoraide Gurgel, Luís Carlos e Leda Guimarães, a dama do vestido lilás, Augusto Severo Neto e o jovem e até este titulo precoce Nei Leandro de Castro, noivos eram Dorian e Wanda, Francisco Pereira e Selma, Berilo e Memilia, minha colega de ginásio. Já quase solteiros juramentados eram Zila Mamede e Newton Navarro e ainda namoradores os da nova geração daquele tempo: Sanderson Negreiros, Miguel Cirilo, Diógenes da Cunha Lima, Moacy Cirne e eu.
            Jornalisticamente, Berilo era o grande sucesso do grupo, graças à coluna diária Revista da Cidade que incluía uma crônica ora lírica, ora cáustica, além de comentários sobre filmes em exibição e notícias culturais e literárias. Moacy e eu tínhamos muito trabalho para “fazer-lhe as vezes” nas tais substituições.
            Berilo era também poeta publicado, embora, já abjurasse injustamente nessa época o seu Telhado do Sonha. Nunca entendi porque o fazia, como acontecia também com Newton Navarro em relação ao subúrbio do silêncio. Eram ambos livros de estréia de valor, ainda a merecer estudo e análise aprofundados.
            Posteriormente, Berilo teve várias coleções de crônicas publicadas. Apresentei ultimamente Cine Lembranças, seleção de comentários cinematográficos organizada por Memilia.
            Repito enfim as palavras de Dorian Jorge Freire: Berilo foi um farol que apontava caminhos. Quando se apagou foi que nós, seus leitores, notamos quanto ele iluminava. Na primeira edição desta Memória, ainda impacto e desnorteamento da perda, não existe palavra ou Imagem da dupla de substitutos.
            Por solicitação de Memilia e Abimael, alinhavo agora estes parágrafos onde se misturam às lembranças de belos tempos a gratidão pela influência positiva e formadora do amigo e a permanente perplexidade pela sua ausência.
 (Paulo de Tarso Correia de Melo)


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