sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

NO LARANJAL

Nos pés do laranjal adormecido.
Com todos os mil diabos, onde li isto? É de uma canção popular ou de um bom poeta antigo? O certo é que esse decassílabo não é meu. Acabo de ver um laranjal, frondoso e inundado de um cheiro bom e ácido, e o verso me veio à lembrança.
Então, que fique o decassílabo, seja de quem for, e o que mais eu vi. Laranjas gordas e amarelas. Seios quarentões. Aqui e ali, uma laranja no chão, com jeito de cansada e cheia de oferecimentos como certos seios se dão. Em um galho do laranjal, mais para um canto do quintal, dois pássaros. Um conversa com o outro. Vou me aproximando com jeito, para não espantá­-los. Quero reconhecê-los e dar aos dois um cordial bom-dia.
Mais para o fundo do quintal, lá junto ao muro, onde um pequeno córrego canta suas águas tranqüilas, uma moça lava umas roupas e canta uma canção qualquer. As moças já não mais existem, estão todas nascendo mulheres, cheias de sabenças do mundo que as moças de antigamente não sabiam. Aquela acolá deve ser uma moça diferente. Canta e lava roupa, à margem de um córrego manso, cercado de um laranjal.
            Chamem depressa um poeta para cantar esse quadro!
            Volto depois de apanhar três ou quatro laranjas maduras do chão, que logo estou partindo com uma faca de agudo corte, abrindo em gomos amarelos. Seios partidos. Maduros e partidos.
            Duas doses de cachaça fazem o resto da manhã.
(BW)

Nenhum comentário:

Postar um comentário