quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

BERILO VIVO - Celso da Silveira

          BERILO VIVO

         Esses os Iineamentos que fize­ram Berilo estimado dos que dele se aproximaram, e admi­rado pelos que o conheceram só pela leitura de suas crônicas.
          Tinha a percepçao justa de suas emoçoes e se conhecia na sua timidez. Resguardava-se na Natureza, com experiências de sementes que semeava em sua horta, ou com o canto dos pássaros que desciam em vôos rápidos e se alimentavam do alpiste que jogava no quintal, ao lado do vasilhame com boa água para se dessedentarem.
           Apascentava o seu rebanho de modestas ambiçoes - uma casa entre árvores, couves e pimenteiras, na estrada da Re­dinha, longe do tumulto, mas bem perto de Maria Emilia, Juca, Gordo, Poeta e Milena, e de muitos livros.
          Seus contentamentos eram feitos de coisas simples, suas amplitidões eram limitadas na dimensão do mundo ao seu cantinho, mas seu olhar pe­netrava-se de curiosidade pela sabedoria e extasiava-se dian­te de muitas leituras.
          Sua sutileza transbordava na conversa passageira, mergulha­da de conhecimento e amplia­da na vazão de amparar aos que dele esperavam ajuda.
          Vibrava, nas suas mãos em concha, os tons de choros, sambas e marchinhas, mar­cando com as pernas flexionadas a coreografia desses ritmos, como um bem-aven­turado diz sua oraçao.
          Não tinha tristezas, nem amarguras, nem desequilibrava os dons da vida. Irradiava suas tendências à alegria, como quem se doa por uma questão de doar-se, recusando, sempre, ser engrandecido;
         De nada se queixava. Mal algum abalava o seu jeito de compreender a maldade. Combinava os motivos de desconfiança com um otimista enqua­dramento das pessoas. Era puro no julgamento, porque antes autojulgava-se. Nele não havia subterrâneos. Tudo era claro e puro e são.
         Era um informal, que não conseguia ostentar qual­quer vaidade, nem absorver elogios, nem se mostrar na virtude. Não tinha, realmen­te, aptidao para o sucesso, era, apenasmente, um Poeta. Um meigo amigo. Bom basta!
(Celso da Silveira)

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