sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

PAVANA PARA UM AMIGO AUSENTE - Augusto Severo Neto


PAVANA PARA UM AMIGO AUSENTE
Poeta, meu bom poeta,
de outras plagas agora
bebendo vinho de nuvem
comendo queijo de aurora
tira-gosto de ambrosia
numa bodega celeste
bandeja de estrela d'alva
som de sino, rosa alpestre
largo balcão de arco-íris
lareira de sarça ardente
Poeta, meu bom poeta
por que foste de repente?

Ainda havia tanta coisa
a fazer, meu bom poeta,
tanta taça ainda cheia
tanta poesia incompleta
tanta noite moça ainda
querendo ser conquistada
tanta rota de navio
sem ter sido navegada
tantas esquinas da vida
tanta estrada, tanta trilha
tanto samba a ser cantado
só uma Maria Emilia
mulher, companheira, amante
namorada, colombina
parceira multiplicante
fêmea madura, menina
sabendo ser madrugada
gargalhada, riso quente
que teve o riso partido
quando te sentiu ausente
Poeta, meu bom poeta,
por que foste de repente?

Poeta, meu bom poeta,
amigo de muita vida
te recordo, luminoso
voz macia, taça erguida
pierrot chapliniano
mestre-sala, companheiro
bigode parnasiano
coração de mundo inteiro
cantor de terra de Espanha
andaluz e Iorqueano
navegador de serestas
navegando a todo pano
ergo a taça dolorida
à tua presença ausente
Poeta, meu bom poeta,
por que foste de repente?

(Augusto Severo Neto)

Um comentário:

  1. o cronista Berilo baila por entre praias, bares, casas de amigos, anfitrionando sua dulcíssima pessoa. assim ele sobrevivi ao tempo, imortalizando seu coração de poeta e boêmio.
    salve! salve!!
    Cgurgel

    ResponderExcluir