sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CHORO PARA BERILO - Ney Leandro de Castro


CHORO PARA BERILO

Quero lembrar o poeta
na vida que ele vivia,
não na merda dessa morte
que levou a revelia.
Quero lembrar o poeta
erguendo taças de vinho,
amando Maria Emilia
e sendo amado: painho.
Quero lembrar o poeta
cantando um samba-canção
de Lupiscinio Rodrigues
destroçando coração
(ai, poeta, o coração é musculo que arrebenta
as cinco da madrugada sem poesia ou clarineta).
Quero lembrar o poeta
do jeito que ele era:
sarcástico como uma flor,
suave, estranha fera,
olhos claros de berilo,
cabeleira leonina,
ardor de quem ama a vida,
timidez beneditina,
equilibrio dos contrários,
água e vinho em mesma taça,
o connaisseur de cognac,
o bebedor de cachaça.
Quero lembrar o poeta
solfejando Pixinguinha,
relendo seu Dom Quixote,
pensando em ilhas marinhas,
na ressaca da ressaca
do claro mar da Redinha
Quero pedir, se é que posso:
Não vá, não, meu poetinha
                                                   (Ney Leandro de Castro)

Nenhum comentário:

Postar um comentário